Conheci a caspa num jantar de família quando eu era bem pequeno. Estávamos eu, meu pai e minha mãe sentados à mesa, saboreando nossa comida, quando papai começou a reclamar da maldita. A maldita a que me refiro não é minha mãe, nem a comida, tampouco a mesa, mas sim ela, a Caspa.
O velho chacoalhou os cabelos e dezenas daqueles flocos brancos caíram. Eu, um infante dos trópicos, que jamais havia visto neve ou coisa parecida, fiquei maravilhado. Estusiasmado, perguntei aos meus progenitores quando é que eu iria ter um negócio legal daqueles no meu cabelo também. Meu pai riu de minha ingenuidade e soltou uma frase mais ou menos assim: “Que besta, ele quer ter caspa...”. E eu queria mesmo.
Meu segundo contato com a Caspa, deu-se mais tarde, lá pela 4ª ou 5ª série. Aquela época em que praticamente todas as conversas dos meninos consistem de gozações mútuas e piadas de duplo sentido. Havia um CDF na minha classe, que usava um topetinho no cabelo, que se assemelhava a uma onda do mar. Já não bastasse isso, o muleque resolveu ter caspa. Prato cheio para os demais ficarem zombando, falando que os piolhos surfavam no topete dele, usando as caspas como prancha.
Já no começo da adolescência tive meu terceiro e talvez mais marcante caso com a Caspa. Eu ia sair com o pessoalzinho da classe, incluindo várias menininhas. Íamos no shopping, jogar boliche, ver um filme no cinema, comer no fastfood e coisas do gênero. Me arrumei todo e para dar um toque especial, passei no banheiro do meu pai para usar um perfuminho do coroa. Mas acabei cometendo o erro de usar a escova dele para pentear meu cabelo, e ao invés do charme, acabei emprestando algo muito menos atraente, a Caspa. Sim, papai estava com o mesmo problema de novo e eu sem perceber deixei minha jovem cabeleira cheia de pontinhos brancos. Não preciso nem dizer que esse equívoco me custou caro.
Há uns 4 anos atrás, o grande dia chegou. Tive caspa. E pela primeira vez ela era originária de meu próprio coro cabeludo. Apesar de tudo, senti um certo orgulho de estar me tornando um homem igual meu pai. Mas passou rápido. Minha mãe comprou um xampuzinho especial e eu logo me livrei dos flocos brancos que deixavam minhas camisetas pretas estilizadas.
O tempo passou.
Hoje, quando deito na cama a noite, no silêncio do meu quarto, fico lembrando de tudo isso e imaginando quando será o meu novo encontro com ela. Será que um dia eu namorarei uma menina com caspa? Nunca vi de perto uma mulher com esse problema. Seria uma experiência interessante. Serei eu o cientista que vai descobrir que está nas caspas a cura para doenças como o Câncer e a AIDS, que tanto castigam a humanidade? Pouco provável. Será que as caspas são seres alienígenas, que ficam alojadas perto da cabeça das pessoas espertas, roubando o conhecimento e a inteligência da raça humana? Não sei.
Mas de uma coisa eu tenho certeza, minha história com a caspa está longe de um ponto final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário